Era noite de gravação do curta “Intermitente” no ano de 2007, eu e Tirotti conversávamos sobre histórias contadas utilizando metalinguagem. Lembro que naquela mesma noite tive a idéia de fazer um curta em que essa narrativa fosse presente em tempo integral. Coincidentemente Tirotti estava fazendo o “making of” do vídeo “Intermitente”. Depois de alguns dias pensando, finalmente comecei a desenvolver o roteiro. Deve ter sido o roteiro de curta-metragem mais difícil de concluir.
Por ser um vídeo de ficção e experimental, o trabalho teria como destaque uma linguagem cíclica em que os personagens estão perdidos num roteiro que eles desconhecem, mas que ao mesmo tempo fazem parte. A existência de uma seqüência de situações diferenciadas trazendo situações em mundos completamente diferentes faz com que os espectadores tenham a noção de um vídeo dentro de outro.
Muitas vezes o público assiste a um vídeo e está completamente contaminado com a sua narrativa e com a história que está sendo contada e acaba esquecendo por um instante sua vida real. Nesse projeto, o espectador entra na narrativa do vídeo até o momento de descobrir que tudo não passa de uma gravação e que a ficção se explicita como ficção dentro da própria trama.
Dessa forma, esse projeto irá trabalhar linguagens de vídeo e algumas referências cinematográficas sem esquecer de provocar o espectador com essa mistura cinema/vídeo. O curta pretende misturar imagens fotográficas, de vídeo HDV, vídeo de baixa resolução, como nas câmeras handycams e até mesmo imagens de câmera de segurança. Todos os personagens do curta contestam os próprios recursos audiovisuais que estão inseridos.
A relação de linguagens cinematográficas e de vídeo faz com que o espectador sinta-se provocado e tenha a idéia de estar vendo todas as etapas de uma produção audiovisual, mesmo assistindo uma representação ficcional em um vídeo experimental.
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